São 60 mil consultoras espalhadas pelo país. Feira de empresas do setor começa hoje na capital

 “Josi é com i, mas pode escrever com y, que fica igual meu cartãozinho”, sugere a consultora erótica Josy Galdino. O cartãozinho, no caso, apresenta oficialmente a moça, que também é cabeleireira e maquiadora, para clientes interessadas nos artigos que saltam de sua inseparável mala cor-de-rosa. Gel beijável (com variedade de 40 sabores), kit de jogos eróticos, vibradores de variados tamanhos, alcances e performances e a imbatível lingerie comestível são alguns dos produtos que rendem lucro que varia entre 100% e 300% e permitem que a revendedora incremente o orçamento em até R$ 2,5 mil mensais.

O chamado mercado erótico brasileiro, celebrado em feira que começa hoje em Belo Horizonte, movimentou R$ 1 bilhão em 2010, o que representou crescimento de 17% em relação a 2009. Deve fechar este ano 20% maior. Os números são da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme).

Josy “com y” é uma das 60 mil consultoras de uma marca mineira de catálogo para produtos eróticos, a Erotika Toys, que está entre as três maiores empresas do país no segmento. Em Minas, a força de venda porta a porta já cresce mais que o volume comercializado em sex shops virtuais e lojas físicas – são 9 mil consultoras no estado.

As vendas via e-commerce, no estado, devem ter crescimento de 20% até 2015; lojas físicas (valem de sex-shops a mercearias) devem aumentar os negócios, no mesmo período, em até 18%. Mas a estimativa de crescimento do segmento porta a porta é de 30% nos próximos quatro anos.

“O pessoal não tem mais inibição – antigamente, as compradoras eram mais jovens, hoje tenho clientes de todas as idades”, revela Josy, que também é professora de pole dance. Ela explica que, para fidelizar as consumidoras, não hesita em experimentar cada artigo novo com o marido: “Não posso enganar as clientes dizendo que um gel é saboroso, se ele não for”.

É com metáfora curiosa que o diretor da Erotika Toys, Paulo Aredes, explica por que a distribuidora passou de aposta tímida a sua única fonte de renda em quatro anos: “É como se tivéssemos um monte de gente que se habituou a viver descalça. Pode-se olhar para isso e pensar que a situação não vai mudar. Ou pode-se enxergar grande oportunidade de negócios aí. Depois que experimentar o sapato, esse pessoal pode gostar. E querer comprar cada vez mais”. Segundo Aredes, “se não houvesse consumo, a indústria não fabricaria 50 mil vibradores por mês”. “Até falta mercadoria.”

Este ano, a empresa estima que fechará com faturamento 40% maior que em 2010 – para 2012, a estimativa é que os negócios avancem 50%. Os valores, ele não revela: “Tem muito olho gordo nesse mercado”. O investimento inicial de uma consultora é de R$ 150. “Esse valor costuma retornar em até uma semana, por conta da novidade. É muito rápido”, diz Aredes. A frequência de compra de uma consultora é de oito vezes ao ano, com tíquete médio de R$ 350. Treinamentos periódicos capacitam as revendedoras a explicar o funcionamento dos cada vez mais mirabolantes gadgets sensuais.

De acordo com a presidente da Abeme, Paula Aguiar, se na internet a maior parte dos compradores é formada por homens (54%), o mercado de vendas diretas tem 99% de consumidoras. Os grandes hits desse mercado concentram-se na satisfação dos prazeres delas. “A modinha deste ano, por exemplo, é o gel vibrador”, diz Paula, referindo-se ao produto que ativa propriedades, digamos, “efervescentes” em contato com a intimidade feminina.
 


Frederico Bottrel - Estado de Minas